terça-feira

Página perdida

Enquanto amanhece lá fora, eu dentro de mim tenho a noite cerrada que não quer acordar.
Os meus dias passam distantes porque os parei exactamente naquele momento em que saíste para não mais voltar.
Tenho todos os meus segredos por contar...A quem contar? E como deixar livre a alma para sonhar?
Deixaste a nossa vida, como quem deixa um sofá, o mesmo sofá onde mergulhaste o teu corpo cansado durante tantos anos.
Tento, juro que tento, mas já não sei amar...Fiquei presa nas emoções de outrora e não consigo virar esta página que parecia apenas de papel.
Às vezes ainda sinto o teu cheiro, ouço a tua voz, e tudo em mim renasce, para voltar a morrer no segundo em que percebo, que não eras tu.
Já não voltarás a ser tu, nunca mais na minha vida!
coragem

domingo

O meu mundo...

Trago dentro do meu coração, o mundo.
Guardo nele, coisas infinitas que resgato, quando passo por lugares serenos, por caminhos que percorro enquanto sonho.
No meu mundo, que o divido como os dias suaves, onde na manhã tenho o calor da alma, na tarde as lágrimas que derramei sem vergonha, e na noite, tenho um baú que não se pode fechar pela imensidão de momentos.
Momentos onde te encontras, onde nos encontramos escondidos da multidão. Onde me afagas a memória e deixas que fantasie que nada mais existe para além de ti, para além de nós...
De todos os lugares onde estive, trago imagens perfeitas de todos os limites a que cheguei, não quero apagar essas paisagens que vi através da porta que abri de novo para a vida.
Sonhando me vi mulher, sofrendo me fiz mulher.
Vi e vivi tudo o que guardo no coração e não rejeito. Sei o que quero, o que guardo e aguardo para mim, um dia vou ser de novo dona de todas as coisas que trago na memória, sei que é tanto, mas ao mesmo tempo é tão pouco para o que eu quero.
E querer, é o que me dá força e preenche alguns dos espaços que ainda se encontram vazios...
Coragem

terça-feira

Saudades...

Nunca consegui compreender,
muito menos expressar o que tantas vezes pensei sentir,
hoje ao ler uma citação, lembrei de momentos...
momentos em que senti saudades do que nunca vivi...

"Eu tenho saudades de tudo o que não vivi contigo."

Citação de Margarida Rebelo Pinto

segunda-feira

Não sei se voltarei...

É o fim que desenhei nos teus traços desmedidos, da tua procura que não chega aos meus limites, nem a minha procura onde não te encontrarás jamais...
É o fim que carreguei numa folha de papel para que a dobrasses na vida, ou de um só destino, mas que não soubeste acompanhar a fragilidade que julgavas eu não ter...
É o fim que me alimenta a alma e dá voz à razão que agoniza sem dor...
É o fim dos nossos corpos vencidos em sintonia, que se amam à pressa numa tarde hora por chegar e partir.
É o fim da minha coragem que se abandona por este amor porque nunca ganhou a força para vencer.
É o fim da partilha de nossos corações num só, num só gesto, numa só vontade, numa só contradição de planos edificados.
É este o fim que avistei desde o principio...
Amei de novo com todas as forças da minha razão, ou da tua ilusão? Jamais irei saber...Jamais saberemos!
Sempre...Coragem

domingo

Ausência de coragem

Não quero mais,
Manter calada a minha voz...
Apetece-me gritar
Em pequenos gestos
O que vou guardando
Dentro do peito...
Nele vou acumulando
Mágoas,
Incertezas e duvidas
Que permanecem.
Não creio mais
Se o que faço está certo.
Apenas sei...
Ao ritmo deste tempo
Que já não controlo,
Ao espaço que dei aos outros
E não devia...
Sinto-me presa,
Sufocada e adulterada
Na minha própria
Teia de emoções...

*

coragem

*

Ausência

Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces

Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.

No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida

E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.

Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.

Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados

Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada

Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.

Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.

Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.

Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.

Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.

Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.

E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.

Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.

Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.

E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.

Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.

Vinícius de Moraes