sexta-feira

A rosa branca

(foto retirada da net)

Não me inquieta
se o caminho que me coube
por secreto desígnio jamais floresce.
Dentro de mim, sei que existe,
oculta, uma rosa branca.
Incólume rosa. E branca.
Não pude colhê-la: mal nascera
e logo perdi-me nos labirintos do tempo,
onde desde então pervago
apenas entressonhando aquilo que sou
e vive no recôncavo da rosa.
Sem conhecer-me, padeço
o mistério de existir
em amargo desencontro
comigo mesmo. No entanto,
pesar tão largo se apaga
quando pressinto: na rosa,
mistério não há. Nenhum.
Sem medo de trair-me a face,
posso morrer amanhã.
Extinto o jugo do tempo,
olhos nem boca haverá
para a queixa e para a lágrima
se em vez de rosa, de pétala
cinza, de pétala apenas
existir a escuridão.
O vazio. Nada mais.

"Thiago de Mello"