sexta-feira

Mãe e filha

O modelo de educação pelo qual fui criada regeu-se sempre por normas muito rígidas, as suficientes para me deixar mágoas e lacunas.
A sexualidade foi sempre um tabu ao longo da minha adolescência, deixando-me por minha conta e risco, até as coisas mais lineares, como a menstruação, os métodos contraceptivos, até a concepção de uma criança foi-me vedado por aquela que me gerou.
Limitou-se a uma relação mãe/filha e pouco mais.
Essas descobertas, tentei fazê-las através de livros lidos às escondidas, filmes vistos aos bocadinhos com medo de ser surpreendida a ver “aquelas coisas”.
Como se isso me impedisse de seguir por outro caminho senão aquele que escolhi sozinha. De fazer o que queria, pena ter que ser às escondidas.
O silêncio que ficou a partir desses anos...
Realizei um dos meus sonhos de menina: Ser Mãe, de um rapaz e de uma rapariga. E desde logo decidi que a educação da minha filha não seria baseada com toda a certeza nos princípios que os meus pais me impuseram.
Hoje tem 10 anos, mas desde muito pequena que lhe quis incutir a liberdade de expressão, sem tabus, sem esconder os livros, sem adiar as respostas às perguntas mais embaraçosas, explicar, sem enganar, apresentar-lhe a vida à medida do seu tamanho, sem vergonhas.
Quero acima de tudo que cresça sem dúvidas, sem receio de se aproximar de mim que além de mãe pretendo ser sua amiga.
Foi desta forma que eduquei também o meu filho, hoje com 18 anos, não tem qualquer assunto que não possa ser observado por nós Pais.
Sempre desejei ser a primeira a quem recorram quando a vida lhes apresentar situações menos fáceis, ou simplesmente para falar. De tudo.... Para que mais tarde não nos cobrem a distância.
A mesma que esteve sempre implícita entre mim e a minha mãe, que não compreende esta nova forma de educar e a liberdade com que falo com os meus filhos.
Cresço dia a dia com eles. Tenho a certeza que amanhã serão o homem e a mulher que quiserem, que não conhecerão o receio de falar, e nunca me poderão cobrar a falta de diálogo, a minha abertura e predisposição para os ouvir.
Agora a responsabilidade é minha, educo consciente que a minha filha será mais tarde adulta, e para além do laço de mãe/filha, um laço muito mais importante, com uma grandeza enorme: o laço de mãe/amiga.
coragem