segunda-feira

Papagaio de papel...

Houve dias em que consegui ler-te
num poema, escrito ao acaso.
Apareceste no meu mundo sem nada pedir
e eu, sem nada para te dar...
Foi numa manhã escrita ao relento,
sem qualquer defesa ou vaidade.
*
Essas letras que ia escrevendo em ti
todas elas rodopiaram numa majestosa dança
sem qualquer ensaio,
ou mascaras por colocar...
*
E eras tu, e era eu, nascidos ambos
das mesmas noites do mesmo medo,
das mesmas contrariedades da vida,
sem qualquer sabor...Nem qualquer esperança.
*
Era a ti que os vidros das janelas reconheciam,
tinham neles guardadas as memórias
de ambas as faces que procuram
um mesmo motivo para acreditar.
*
Eu pedaço de tudo e bocado de nada,
mera aprendiz de uma vida por iniciar.
Tu com a esperança de preencher
o pedaço de azul que ainda falta no teu céu.
*
Sabes quantas manhãs inventei para ti?
Tens noção do rasto que deixaste nesta casa?
Vivi-te nessas palavras feitas poesia,
ao mesmo tempo que sonhei com a raiva e a vontade
de quem luta para vencer uma batalha perdida.
*
Quando desceu sobre ti o desengano,
sentei-me nesta pedra gelada sem nada perguntar
Não te quero mal. Não te desejo a solidão,
Apenas peço que avalies numa folha em branco
a nota a dar-me, mesmo em forma de despedida.
*
Não poderás nunca fechar em ti,
a revolta que não estás a conseguir mudar...
Eu sou apenas mulher, que pinto a vida
com as minhas próprias mãos...
Nunca seria o anjo, que um dia te iria salvar.
*
Escrevo o que sinto e mais não sou.
Escrevo nesta página da vida
o meu papagaio de papel
é teu, dou-to, mas promete,
que nunca o irás deixar fugir...
*

(Dedido este poema ao meu amigo Paulo,
que me vai continuando a visitar...)
*
coragem