terça-feira

-Mãe, fumei um charro.

O sangue, gelou... o coração, descompassou... perdi, a imediata noção de onde me encontrava... senti o chão, fugir-me debaixo dos pés, todas estas sensações, em pouco mais de 5 segundos...
Naquele momento, fiz uma viagem até ao passado. Numa conversa banal entre futuros Pais de um bebé muito desejado... A frase dita na altura, soava agora claramente, diante de mim:
-Gostaria, de ter uma relação tão franca e sincera com o nosso filho, que se um dia, ele fumasse um charro, eu seria a primeira a saber... É sempre mais fácil dissuadir após a primeira vez, que após o primeiro ano...
Senti, que estava a ser posta à prova, pela força das palavras, que muitos dizem ter.
Acalmei, coloquei a voz segura, e consegui dizer (suponho eu) a frase certa: - E então filho, espero que tenhas ficado elucidado com a experiência, de tal forma que, não seja necessário repeti-la.

Enquanto jovem, não fui santa nenhuma, fiz, o que a maior parte das adolescentes fizeram, de nada me arrependo, mas a maior parte das experiências, ficaram elas, arrumadas com a adolescência, à excepção do cigarro, que trouxe comigo até aos dias de hoje, sem qualquer orgulho.
Também sei, que os meus filhos, são seres humanos que erram ,tal e qual, como os filhos de qualquer um. Com duvidas e curiosidades, todos eles.
Se tiverem os olhos fechados é um drama, mas tê-los abertos, não minimiza o perigo, que espreita na vida de todos.
-Queria sentir uma sensação diferente, conhecer-me para além da rotina, elevar a mente... justificação dada, por alguém que ainda ontem usava chucha, e não tarda, completará 19 anos.
Acredito, que a reacção a este post irá variar, consoante a pessoa e as suas vivências, os seus conhecimentos, talvez até a idade, interfira na opinião.
Poderia até nem relatar, evitando uma exposição, seria sempre uma Mãe honrosa, cujos filhos, passariam ao lado destas experiências. Mas, aconteceu, foi um facto e como tal, senti necessidade de desabafar, e porque não alertar...
Posso afirmar sem culpa que, enquanto Mãe, jamais esperaria ouvir o que ouvi ontem, da boca do meu filho, pelo menino que é, tendo ele a cabeça tão no lugar, longe de mim imaginar a curiosidade dele em fumar um charro.
O mesmo charro, que um dia imaginei ser possível acontecer, e o estreitamento da nossa relação o obrigou a confessar...
Poderia até nem ser um drama, poderia até, ter conseguido ser mais suave e delicada, não dando a importância que dei, se não fosse o motivo, de ter perdido um irmão há quatro anos, e o consumo de drogas, ser o grande responsável...
Coragem
(este texto, foi antecipadamente lido e autorizado, pelo meu filho)