quinta-feira

POESIA ALENTEJANA - dã melhori

Tava eu a tirar moncos
lá da cana do nariz
anquando fazia uma mija
assim tipo chafariz
Tinha a bexiga tã chêa
que fiquê lá uma hora
aquando me assomê em volta
vi que tinha ido tudo embora
Sacudi o coiso e tal
enquanto coçava a bilha
de tal manêra atascado
que o entalê na braguilha
Tirê as botas do lodo
que fizera na mijada
sacudi tamém as calças
sempre com ela entalada
Pedi ajuda à Ti micas
que acerca dali morava
mas depilou-me os tomates
da força com que a puxava
Ensanguentado na pila
fui aos tombos pelo monti
vomitando quasi as tripas
nã sê se queres que te conti
Como comera dôs pães de quilo
e um garrafão p'rajudar a empurrari
na admira que tivesse
três horas a vomitari
Detê-me na palha fresca
p'ra ver se descansava
enterrê-me logo em bosta
de uma vaca que passava
E foi assim que'ssa tarde
conheci um caracoli
os dôs deitados na palha
com os cornos a secari ao soli
Porque esta vida é tã dura
por aqui p'lo Alentejo
dêxa cá dormiri um pôco
vamos soltando um bocêjo...
*
(Desconheço o autor desta poesia, resolvi partilhá-la convosco, não seria justo guardá-la só para mim. A ilustrar, uma imagem também ela, deste meu e vosso, maravilhoso Alentejo)