quinta-feira

Inocência perdida (fecha os olhos, dá-me a tua mão)

Adorava voltar a ser criança, regressar aos meus sonhos esquecidos de menina. Sem me importar de voltar atrás no tempo, queria apenas poder de novo, brincar com bonecas de luz, de trapos, de vida...Ser simples e serena, como imagino ter sido um dia.

Recordar a grandeza das coisas, no tamanho infinito das portas que atravessei e das janelas que pulei...Para encontrar a bola ou os beijos escondidos da Avó entre todas as coisas maravilhosas, que vivi e saboreio até hoje.

Poder voltar ao jardim que me acolheu entre as flores, sem querer pensar em ser mulher algum dia. As imagens que tenho desse tempo, não passam de relatos que construo ao meu jeito, vou moldando a realidade e, assim deixo que seja...

Queria viver de novo com os pés descalços, sujar-me na relva verde e macia e perpetuar em mim o cheiro das rosas...Queria ser menina doce outra vez, doce como o tempo que vivi outrora.

Odeio não ser mais neta de ninguém...Nunca mais recebi aquele abraço que me envolvia e protegia, da ira de mil demónios...A Avó contava-me histórias, cada dia uma diferente tinham sempre o sabor que ela própria inventava. Ensinava-me canções que ainda sei de cor...

"Diga lá minha menina quantos homens há no mundo...
Quantos homens há no mundo nem todos usam chapéu...
Diga lá minha menina, quantos anjos há no céu..."

Foi com anjos que segui em frente e, me tornei mulher, mas hoje, apenas hoje...Queria sentir de novo o cheiro, da inocência perdida...Fechaste os olhos?
coragem