terça-feira

SIDA/HIV

Faço uma pausa no meu blog, (durante 3 dias)
A pedido do Raul, do Blog sidadania vou escrever um texto sobre SIDA/HIV, ao qual acedo com prazer. Aproveito, para vos contar uma história como algumas que, de vez em quando escrevo por aqui, sempre reais, sempre com um peso e cargas emocionais, que eu própria ensaio na alma e deixo que flua.

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Em meados de 1992, o meu irmão andava no auge de consumo de drogas, experimentava um pouco de tudo, curioso como ele só. Eu, mais nova 3 anos, dividia os amigos, os espaços, mas a droga nunca me fascinou, talvez porque transmitia e muito bem, dependência.

Do consumo ao tráfico foi um pulo minúsculo, quase nem demos por ele, não fosse um dia andar nas minhas arrumações e deparar-me com imensas barras de um material cor creme claro, a que vim a saber mais tarde tratar-se de heroína.

O vicio tomou conta dele, sem sequer se importar com a família, muito menos com ele próprio.

Reuniam-se em casa de uns amigos, onde eram feitos os caldos. Na altura, a informação existente sobre a SIDA/HIV, era pouca ou nenhuma, e a troca de seringas entre eles era normal.

Nem preciso de dizer que o meu irmão tinha contraído o vírus, ainda lembro como se fosse hoje, Setembro de 1993, acabado de chegar de mais uma desintoxicação sem êxito. O mundo desabou, como podem imaginar.

Ao contrario, da maioria dos toxicodependentes e, portadores do virus, o meu irmão não tinha características que o pudessem identificar como tal, o que o levou a esconder de todos, amigos, vizinhos e mesmo alguns familiares.

Escondia-o, pela insegurança e pelo estigma, que era sentido na altura que a doença começou a ganhar voz.

Deixou que o tempo passasse por ele, e a doença ganhasse raízes, preferia não falar no assunto, talvez assim esquecesse o que transportava consigo. Grande erro como tudo isso o prejudicou, não tomando a medicação que deveria.

Mantinha os vícios, recorria as inúmeras desintoxicações, claro todas elas sem êxito. Caminhou isolado, porque assim o preferiu durante 10 longos e insuportáveis anos...

Quando tomou consciência, que estava realmente doente. Era tarde demais!!!

Os cuidados de saúde, eram negligentes, uma ulcera varicosa e mais tarde hepatite B, não deixaram qualquer duvida, não era agora apenas um portador de HIV, estava doente, muito doente...

O meu Irmão faleceu de SIDA no dia 8 de Setembro de 2004.

Porque esta doença existe, porque ela é real, porque ela mata, porque todos nós podemos estar expostos a ela, porque ninguém é imune, não se iludam. Resta-me implorar, suplicar...Não sejamos nós também negligentes...

(coragem para falar de ti...mas sabes meu irmão, que não seja em vão, que eu possa contribuir de alguma forma e, esta foi a melhor que encontrei...Um beijo de saudade)

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Mais informação e esclarecimento poderá obter
sobre SIDA/HIV no blog sidadania
Este texto faz parte da campanha
"Um texto sobre SIDA".